sábado, 17 de novembro de 2007

Você viveu os anos 80?

Artigo de Bruno Rodrigues da agência Comunique -se


Ah, o tempo... Está em cartaz, desde o início deste mês, "Podecrer!", filme de Arthur Fontes sobre os jovens dos anos 80. Meus cabelos brancos (tá bem, nem são tantos assim) não me deixam mentir: a fita foi feita sob medida para a minha geração, para quem o futuro que hoje vivemos era coisa dos Jetsons, apenas.

Ninguém é o retrato fiel da sua geração – a minha, no caso, era chamada de Geração Coca-Cola. Mas, aqui e ali, eu consigo me ver na história. Assisti ‘E.T.’ na estréia, sentado no chão de uma cinema lotado; a paixão pelos filmes do ainda-não-tão-famoso Steven Spielberg era tanta que eu tinha – e ainda tenho – uma camiseta com os dizeres ‘Spielberg Forever’ que irritava, e muito, meu professor de cinema na PUC, defensor ferrenho do cinema nacional.

Eu era fã das novelas de Gilberto Braga, em tempo de ‘Vale Tudo’, a melhor de todas. Meu trabalho de final de curso foi sobre a obra do novelista, e ainda tive que escutar dele, ao final de uma das últimas entrevistas que fiz, o comentário para lá de emblemático, que me corrói até hoje: ‘Vou agora escrever o capítulo em que revelo quem matou Odete Roitman...’. Mais anos 80, impossível!

Se há uma diferença entre aquela época e a que vivemos, é a tecnologia. Na infância e na adolescência, minha geração viu a tevê a cores, o telefone sem fio e o videocassete surgirem – mas pára por aí. O computador só faria parte do nosso dia-a-dia na época do estágio, lá pelo final da década.

Desde então, o mundo viu-se invadido pelo high-tech: primeiro, veio o CD, que jogou a fita cassete e o vinil para escanteio; logo após, chegou o celular e ficou mais fácil ser achado a qualquer hora, em qualquer lugar (é bom, isso?); e, então, finalmente, surgiu a web...

É na autopromoção que ‘Podecrer!’ faz ponte entre passado e presente, entre a Geração Coca-Cola e a Geração Y, a de agora. Na internet, o usuário encontra o completíssimo site do filme e vídeos, muitos vídeos – e não estou falando de trechos da fita ou de trailers, apenas. A produção do‘Podecrer!’ contratou a Espalhe, agência de marketing de guerrilha, para criar pequenos vídeos de ficção, executados pela Conspiração Filmes e descolados da trama do filme, em que três jovens batem papo, contam casos, choram a perda da Copa de 82, comentam filmes da época áurea da ‘Sessão da Tarde’ (Jerry Lewis diz alguma coisa para você?) e, é claro, falam muita besteira. Uma delícia, portanto.

Os vídeos, no melhor estilo ‘marketing viral’, foram primeiramente plantados em sites como Youtube, Videolog.TV e Fiz TV, para depois invadirem a Rede. A idéia era que todos achassem que eram vídeos de verdade, filmados em VHS e descobertos por ‘arqueólogos digitais’. Como dois dos adolescentes são ‘globais’ – um deles está, inclusive, no ar em ‘Toma lá, dá cá’ – fica difícil acreditar, mas o que vale é a (ótima) intenção.

Como, desde sempre, fiz do século XXI a minha opção de vida – aos 16 anos eu era obcecado pelo Epcot Center, o parque futurista da Disney, acompanhei pela tevê cada minuto do lançamento do ônibus espacial Columbia, e em meu teste vocacional deu Informática e





Comunicação (como lidar com isso, na época?) – não deu para ficar saudosista com o filme, que é divertido do início ao fim. Mas deu para lembrar direitinho de uma época em que o máximo em tecnologia em brinquedos era o ‘Genius’, e a mochila da Company era sonho de consumo de 10 entre 10 adolescentes.

E você, é mais século XX ou XXI, mais ‘Genius’ ou mais ‘Palm’?

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, "Webwriting - Pensando o texto para mídia digital", e de sua continuação, "Webwriting - Redação e Informação para a web". Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete 'Webwriting' do 'Dicionário de Comunicação', há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.

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