terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Luiza e a valorização das suas raízes, por Letícia Nascimento

Letícia Nascimento (*)



De repente Luiza viu-se perdida. Tantos prédios, centenas de pessoas andando apressadas, carros, ônibus, motos rasgando as marginais, filas para conseguir entrar nas latas de sardinha, quer dizer, em um vagão do metrô... “Na minha cidade não existe nada disso”, pensava ela a todo instante.

Mesmo assustada com o ritmo da megalópole, o sonho de morar em um daqueles prédios gigantes mantinha-se firme e forte. O dia parecia não ter fim. As pessoas saíam para fazer compras no supermercado depois da novela das oito (entenda-se nove), na sua cidade as portas fechavam às 20h.

Mais uma vez, sinto orgulho de Luiza! Uma sonhadora que sabe manter os pés no chão. Escrito com muita delicadeza, seu último e-mail dizia o seguinte:

“Meus pensamentos parecem borbulhar a todo instante, se ficar mais um mês por aqui acho que enlouquecerei ao guardar tantas idéias durante o dia e não conseguir lembrar nem da metade na hora de escrevê-las no papel. À noite tudo parece ganhar vida. As luzes coloridas confundem meus olhos em meio aos faróis dos automóveis. Tudo por aqui é asfaltado, o problema são os buracos, se bem que eles não atrapalham tanto como as ruas de bloquetes daí. No estágio está tudo muito bem. Janeiro passou tão rápido... Têm momentos que pareço estar de férias, a cada dia conheço novos lugares. A Avenida Paulista realmente é uma vitrine da moda urbana.

Contudo, devo confessar que sinto falta de muitas coisas daí do interior. Não vejo a hora de voltar e poder olhar para o céu. Nunca senti tanta necessidade de avistar estrelas, olhar a lua e brincar de descobrir desenhos nas nuvens. Aqui durante o dia o céu é cinza. À noite, vira escuridão.

Também sinto falta de encontrar os conhecidos no ponto de ônibus, de andar tranqüila pela calçada, sem medo de assalto ou coisa assim. Estar longe da família é mais difícil do que pensei. Tenho saudades do marasmo da nossa cidade natal. Preciso sair da net... Por favor, diga ao pessoal que no próximo final de semana estarei por aí”.

Sem muitos rodeios respondi o seguinte:
“Querida Luiza. Sentir saudades de casa é natural. São Paulo tem suas belezas. Aproveite o máximo que puder ok... ligo mais tarde!...”.

No final de semana Luiza retornou de mala e cuia. O estágio na capital acabara na sexta-feira. Trazia consigo a vontade aproveitar todos os momentos do último ano de faculdade e retornar para lá. Fez-me sair com ela para andar por todos os cantos da nossa pequena cidade, apenas para matar as saudades. Durante o caminho, contava das conversas malucas que ocorriam sempre na hora do almoço com as colegas de estágio e dos lugares que havia conhecido. A todos que encontrava pelo trajeto fazia questão de dizer: bom dia, boa tarde.

Luiza aprendera a valorizar mais ainda seu lugar de origem, sua família e seus amigos. “O importante é voar em busca da nossa realização pessoal, dos nossos sonhos. Mas para que tudo seja completo é necessário manter os laços afetivos com quem nos faz feliz”, escreveu a garota na minha página de recados do Orkut. Ainda não respondi a mensagem, tento encontrar uma mensagem à altura das frases de minha amiga.

(*) Estudante do 4º ano de Jornalismo das Faculdades Integradas Teresa D'Ávilla (FATEA), de Lorena-SP

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