domingo, 26 de agosto de 2007

Portalegre na mídia
Jornal Gazeta do Oeste 26-08-07

Comunidade Pêga conserva tradições de seus ancestrais

1º parte *
KARLA ANDRESSA
De PORTALEGRE


Conservar as tradições oriundas dos ancestrais e ao mesmo tempo manter o processo de evolução dentro da linha da modernidade faz a diferença em uma das principais comunidades negras do Rio Grande do Norte, que resiste ao tempo sem perder o foco da conservação histórica.

A referência é feita sobre a comunidade do Pêga, localizada no município de Portalegre/RN. Essa comunidade é formada por indivíduos da raça negra e possui um forte laço de parentesco com as comunidades vizinhas do Arrojado e do Engenho Novo, também localizadas em Portalegre. Essas três localidades rurais praticam, geralmente, o casamento endogâmico, formando um grande grupo familiar, dividido entre os sobrenomes: Jacinto, Delmiro, Bessa, Bevenuto e Ricarte. Parte dessa grande família se reúne durante a realização da Dança de São Gonçalo e da farinhada. A primeira é uma manifestação religiosa e a segunda uma atividade econômica realizada anualmente de julho a setembro.

Na comunidade existem dois tipos de farinhadas: a de Seu Cícero e Dona Tonhô. A casa de farinha é um espaço de produção e de sociabilidade intensas, uma ocasião para reunir a família, reafirmar laços de parentesco, transmitir valores e crenças do grupo.

Há quem se diz parente de escravo negro. Outros relembram o tempo em que brancos e negros ficavam em lados opostos durante a realização de uma festa.

A ocupação territorial do Pêga f i posterior a das comunidades do Arrojado e do Engenho Novo. Nomes como Joaquim do Pêga, Marcelino Nobre e Jacinto Tomás de Aquino são lembrados como seus primeiros habitantes, provavelmente no fim do século XIX. Para os moradores da sede do município, essas três comunidades possuem sua origem marcada pela presença dos ex-escravos que habitavam a região. Essa afirmação faz parte do imaginário local, mas não foi possível um estudo aprofundado que fornecesse subsídios para demonstrá-la.

Em Portalegre, encontramos o relato da fuga do índio João do Pêga, mas não há dados sobre rebeliões, fuga ou resistência de escravos negros. Oficialmente, o Rio Grande do Norte não possui mais índios e não teve quilombos.

A comunidade se organiza como grupos de vizinhança, cujas relações interpessoais são cimentadas pela grande necessidade de ajuda mútua, solucionada pela participação coletiva em atividades lúdico-religiosas que expressam a solidariedade grupal, pelo exercício do comércio de parte dos gêneros obtidos com a lavoura ou com a criação, como um meio de permitir a aquisição de objetos e mercadorias fabricadas na cidade.

No Pêga, a ajuda mútua ocorre nas atividades agrícolas e, principalmente, durante a realização da farinhada. Já a participação coletiva em atividades lúdico-religiosas se sucede na devoção expressa na Dança de São Gonçalo.

A produção da farinha de mandioca é uma atividade econômica que gera renda para a comunidade e favorece a sociabilidade do grupo. Assim como a Dança de São de Gonçalo, ela é responsável por reunir parte dos moradores do espaço, denominado de bairro Rural. Contudo, nas casas de farinha há também pessoas de outras localidades: são parentes e amigos que aproveitam o dado momento para visitar a cidade.

Em Portalegre, não se produz "massa de mandioca mole". As farinhadas de Portalegre buscam enfatizar sua linguagem, as formas de divisão do trabalho, as técnicas de produção da farinha e importância na união do grupo.

O responsável pela farinhada é denominado "safreiro" e a farinhada pode ser chamada de "safra". As mulheres que raspam a mandioca são as "raspadeiras" e os homens que a arrancam podem ser chamados de "homens da capoeira" ou "da arranca".

*Amanhã trago a segunda parte desta reportagem

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