segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Portalegre na mídia

Comunidade Pêga conserva tradições de seus ancestrais

KARLA ANDRESSA de PORTALEGRE

2º parte da reportagem vinculada ontem no jornal gazeta do Oeste

Outros vocábulos imprescindíveis para entender o funcionamento de uma casa de farinha:

Caçuá - depósito de couro colocado no lombo do burro para carregar mercadorias, no caso mandioca. Carga Uma - carga equivale a dois caçuás com mandioca. Arranca Uma - arranca corresponde a 16 caçuás com mandioca ou a oito cargas. Esse termo também é utilizado para designar a atividade de colher a mandioca no roçado. Cuia Caixa de madeira que comporta cinco litros ou 3,125kg de farinha. Quarta Caixa de madeira que comporta oito cuias. Um saco com 50 kg de farinha equivale a duas quartas ou 16 cuias.

Atualmente, as casas de farinha em Portalegre se concentram na sede do município e a principal delas pertence a Raimundo Magno do Rego, mais conhecido por Palé. Era uma antiga residência, transformada em casa de farinha, há aproximadamente 25 anos. Outras três pertencem a comerciantes da cidade. O Pêga possui apenas uma casa funcionando, localizada no sítio de Rosário de Freitas. Além desta, há uma fechada e outra demolida. A escolha sobre qual delas utilizar depende da ligação do seu dono com o responsável pela farinhada, o que nos remete às questões hierárquicas entre proprietários, não-proprietários e moradores. Aqueles que plantam mandioca nas terras de Palé fazem sua farinhada na casa de farinha dele, o que se repete com os outros proprietários e plantadores. Já aqueles que plantam em suas próprias terras escolhem a casa devido à proximidade desta em relação ao seu sítio, ou por acordos quanto ao transporte do produto.

A produção da farinha de mandioca requer as seguintes atividades: plantar a mandioca, colher, transportar, raspar, cevar, lavar a massa, prensar, peneirar e torrar.


São Gonçalo: santo de rua e devoção em casa


São Gonçalo é reverenciado como um alegre tocador, o padroeiro das mulheres em busca de casamento e o responsável por tirá-las do caminho da prostituição. Por isso, ele inventou essa dança, enquanto dançavam, "as mulheres entretinham-se (...), não se lembrando da libertinagem", disse dona Alaíde, moradora e uma das mestras da Dança de São Gonçalo.

A dança de São Gonçalo veio com os colonizadores portugueses. São Gonçalo é chamado de santo de rua por ele não possuir, em Portalegre, um local de adoração; sua imagem é guardada em casa. A dança que expressa a devoção a este santo é praticada ao ar livre, em pátios ou debaixo de grandes árvores. Não se sabe quando essa dança foi introduzida na cidade. Há muitos anos se dança em homenagem a São Gonçalo, o que representa um período de aproximadamente 150 anos de existência para esta manifestação folclórica.

Por volta de 1930, o bispo de Mossoró, Dom Jaime Câmara, ao visitar Portalegre, manifestou-se desfavorável às realizações da Dança de São Gonçalo, por considerá-las ofensivas à moral religiosa e aos princípios cristãos daquele povo. O vigário da paróquia, Padre Carlo Theisen, colaborou com as determinações diocesanas combatendo a celebração daquelas funções ou 'cultos exóticos', em que se invocava a intercessão do glorioso santo em festejos de aparência profanadora.Não se sabe por que a dança era considerada um "culto exótico". Porém, na comunidade se afirma que ela resistiu a tais proibições. A dança é dividida em 12 partes, chamadas jornadas. Cada uma delas pode ser executada em louvor a alguma coisa ou alguém. É só a partir de 1977, com a chegada de Padre Dário Tórboli, que a Dança de São Gonçalo passa a ser apresentada sem grandes contestações, inclusive no pátio da Igreja Matriz de Portalegre.

Doze mulheres, divididas em duas filas com seis. Elas são chamadas de dançadeiras. Há apenas dois homens: o guia, na viola, e o contraguia, no pandeiro. Tudo ocorre em frente a um altar, onde fica a imagem de São Gonçalo e algumas flores. Durante a execução dos passos e cantos, as dançadeiras e os tocadores reverenciam a estatueta: beijando-a ou ajoelhando-se diante dela. Lembrando que durante a apresentação, os participantes não devem ficar de costas para a mesma. Em Portalegre, vários moradores possuem uma imagem desse santo. Os participantes dançam calçados e vestidos de branco, sobre suas roupas colocam fitas vermelhas e azuis. As mulheres ainda se enfeitam com brincos, colares e maquiagem. Geralmente, os cantos e a coreografia são ensinados pelos os pais ou por uma madrinha. Em Santa Tereza, um sítio vizinho ao Arrojado, há um grupo infantil dessa dança, em que algumas meninas usam os vestidos que pertenciam à mãe, o que é motivo de grande orgulho para ambas.

A execução da dança está associada a uma promessa feita a São Gonçalo. Aquele que a fez solicita aos participantes uma apresentação. Esta, freqüentemente, é realizada nos quintais, sob a sombra dos cajueiros, e muitas pessoas vêm assistir. São, ao todo, 12 jornadas com pequenos intervalos para descansar, alimentar-se, fumar ou beber. Não há dúvidas de que neste momento, o sagrado e o profano co-habitam o mesmo espaço.

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