Por: Vicente Serejo - Cena Urbana - JH
Não é fácil para um simples observador da cena política decifrar qual é a estratégia do PMDB para 2014. Com seu motor totalflex capaz de explodir com qualquer tipo de combustível a partir das próprias forças, o maior partido pode tudo: ter um candidato da legenda para fazer figuração, lançar um nome próprio e disputar o governo com apoio da governadora democrata Rosalba Ciarlini, e até lançá-la à reeleição se reunir chances de vencer e oferecer aos aliados um bom naco do seu poder.
Para admitir todas as alternativas, basta acreditar que não há pudor no exercício da política. É por isso mesmo que é ciência e arte ao mesmo tempo. Com um tanto de frieza e outro de emoção em tudo que pensa e faz. É justamente assim, entre o siso e o riso, que vai cavando seus túneis nas áreas mais improváveis. Quando os desavisados menos esperam e abrem os seus olhos, lá estão eles, sem sacrifícios no rosto, ao lado dos seus maiores adversários ou raivosos com velhos companheiros.
Ninguém põe dúvida, hoje, na capacidade do PMDB de gerir o próprio destino. Nem no visgo dos velhos vícios que ficaram no casco da sua nau antiga. Não é impossível a boa fé no sentimento do deputado Henrique Alves quando declara ser cedo pra julgar o governo de Rosalba Ciarlini. A dúvida é se sua precaução tem o sentido de torcer pela recuperação ou se quer levar a estratégia ao ponto máximo de vê-la inviabilizada, lançar-se como candidato sem a oposição da máquina oficial.
O presidente da Câmara Federal sabe que a governadora, sem chance de reeleição, não pode deixar o governo e ser candidata ao seu lado ao Senado ou Câmara, pois deixaria no governo o vice Robinson Faria, com quem rompeu. Mas, pode ficar no governo, indicar o Senado e apoiar Henrique, devolvendo ao deputado o gesto de ter evitado o rompimento do PMDB na hora mais difícil do seu período de governante, impondo e antecipando um fim trágico que não interessa a ninguém do grupo.
Resta saber se é nesse quadro de candidatura de Henrique ao governo que ele também espera conquistar o voto de Rosalba para Dilma. Como poderá ser visto o gesto? Uma ousadia, se partir de Henrique? Uma estranha rendição, se for com o consentimento do senador José Agripino, presidente do DEM? Ou uma traição, se desaprova e ela mesmo assim declara seu voto em Dilma? Ou estamos já num salve-se-quem-puder com a jurisprudência da sobrevivência justificando todas as armações?É cedo, muito cedo, para julgar. Pode ser. Mas será tarde, muito tarde, para quem duvidar de que todos os caminhos poderão ser trilhados. Vai existir uma justificativa para quem escolher qualquer um deles em nome da união em defesa dos interesses do Rio Grande do Norte. O altruísmo, na hora exata, vai tomar a forma que as mãos políticas quiserem modelar. Mesmo que delas, às vezes, nasçam monstros. Depois, os seus criadores destruirão a criatura. Se assim for o melhor para todos.
*Vicente Serejo é jornalista e colunista do Jornal de Hoje
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