A passagem do PT pelo poder federal não matou apenas a pregação ética e o ideal socialista. Morreu também um personagem mítico: o militante petista. Natural, portanto, que a campanha de Dilma Rousseff, como noticiou a Folha, tenha remunerado os cabos eleitorais mencionados como “voluntários” na prestação de contas à Justiça Eleitoral.
O que foi feito do militante tradicional? Uma parte se desiludiu. Outra ala envelheceu, criou barriga, constituiu família e foi brigar pelo leite das crianças. Um terceiro grupo se rendeu às prebendas de um Estado aparelhado. Infiltrado em ministérios, repartições e empresas estatais, prefere entregar 20% do salário ao partido a ter que suar a camisa nas ruas.
Houve tempo em que a militância do PT, em estado de permanente fervura, passava a impressão de estar sempre pronta para invadir o Palácio de Inverno. Agora, sob atmosfera de densa pasmaceira, o petismo é surpreendido por protestos de rua em que a bandeira vermelha é tratada a pontapés.
Para ingressar no clube do poder, o grupo majoritário do PT teve de beijar a cruz, renegando o velho ideário e isolando os grupos mais radicais da legenda. Exatamente como fizera o Partido Socialista francês, em 1991, ao puxar um movimento de atualização ideológica que contagiaria do trabalhismo inglês às esquerdas escandinavas e ibéricas. Muito antes, o Partido Social Democrata alemão renunciara, no congresso de Bad Godesberg, em 1959, aos princípios da economia planificada.
No Brasil, o distanciamento entre o PT e seus velhos militantes aumentou na proporção direta da prosperidade monetária da legenda. A algaravia da militância foi substituída pelo tilintar das “doações” milionárias do caixa dois
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