Por Franklin Jorge, Editor do Blog O Santo Ofício
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Candidato a reitor da UERN na chapa de oposição, o professor doutor Gilton Sampaio é licenciado em Letras e especialista em Didática do Ensino Superior pela UERN. Mestre em Linguística Aplicada pela UFRN e doutor em Linguística pela UNESP. Professor e pesquisador da UERN, desde 1994, onde ministra disciplinas na área de Linguística, na graduação e no Mestrado em Letras. Bolsista de Produtividade em Pesquisa e lidera o Grupo de Pesquisa em Produção e Ensino de Texto, cadastrado no Diretório 5.0 do CNPq. Nesse grupo já produziu diversos artigos publicados em periódicos especializados, orientou alunos e coordenou vários projetos de pesquisa. Atualmente orienta alunos de iniciação científica e de mestrado. Diretor em exercício do segundo maior Campus da UERN, o Campus Professora Maria Elisa de Albuquerque Maia, e vice-coordenador do Mestrado em Letras. Também vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisa na Graduação em Letras, ministrou palestras sobre o tema em diferentes estados do Brasil. Foi o coordenador da Comissão que criou e implantou o Mestrado em Letras da UERN, com o reconhecimento da CAPES. Foi militante do Movimento Estudantil, com atuação local e nacional, tendo participado da comissão que criou no RN o movimento estudantil organizado na área de Letras. A seguir, a entrevista em sua íntegra.
Franklin Jorge: Por que o senhor quer ser reitor?
Gilton Sampaio: Considerando a necessidade de a UERN dar um salto qualitativo, do ponto de vista acadêmico e de concepção administrativa, a escolha do candidato a Reitor da Chapa Inovação e Compromisso Acadêmico se deu com base em perfis. Nesse sentido, por apresentar os requisitos para o perfil que atende a esse salto qualitativo, meu nome foi o escolhido, atendendo a vontade de um grande grupo formado por discentes, docentes e técnicos administrativos, advindos de diferentes unidades acadêmicas e setores da UERN, que apresentavam, em comum, o desejo de ver mudanças reais na UERN, com inovação na gestão e compromisso acadêmico, e reconhecida dentro e fora do país. Portanto, não há um interesse pessoal para minha candidatura; ao contrário, ela expressa um sentimento de mudança da comunidade acadêmica. Sendo assim, queremos ser Reitor para conduzir esse processo de mudanças tão desejado pelos que fazem a UERN, efetivando o aspirado salto qualitativo.
O que aconteceu com a idéia inicial que contemplava o professor Milton Marques como titular de uma chapa única, enquanto o seu vice seria escolhido em uma lista tríplice da qual o senhor fazia parte?
Naquele momento de discussões, o grupo acreditava que seria possível avançar na concepção de uma nova universidade, fazendo uma composição com o atual Reitor, levando nossas propostas de gestão, que permitiriam esse salto de qualidade, com uma gestão democrática, autônoma, descentralizada e com compromisso acadêmico. No entanto, a composição não foi possível em virtude da escolha do atual reitor, que não conseguiu romper com um grupo que se perpetuam na administração da UERN, há mais de 20 anos e é sensível a influências externas, tão prejudiciais a Universidade.
O que está por trás dessa reviravolta e o que o fez passar de candidato a vice-reitor a reitor?
Pela nossa história, o nosso nome sempre foi bem visto pela a comunidade acadêmica, independente de qualquer candidatura, mas não tínhamos uma candidatura a reitor, pois poderíamos fazer a composição com o atual reitor, considerando o que colocamos na questão anterior. No entanto, como o reitor não foi capaz de entender o sentimento de mudança que vive a Universidade, o grupo decidiu pela escolha do meu nome e do professor José Ronaldo para conduzir a UERN nesse novo momento.
Quais os principais desafios que esperam o próximo reitor?
A UERN, em virtude de sua complexidade, enfrenta enormes desafios, mas iremos destacar quatro que comprometem a vida acadêmica de nossa Instituição: (1) concepção de gestão universitária centrada nos órgãos da administração superior, (2) melhoria dos serviços, (3) qualidade de ensino; e (4) verticalização do ensino. Observando atentamente, esses problemas estão intrinsecamente relacionados. A gestão universitária, a qualidade de ensino e sua verticalização são, talvez, os maiores desafios a serem enfrentados pelo próximo Reitor. Nossa Chapa apresenta dez compromissos com a comunidade universitária, sem os quais não poderão ser resolvidos esses problemas e a UERN não poderá dar o sonhado salto acadêmico.
No caso de vir a ser eleito, o que fará para enfrentá-los e resolvê-los?
Nossa Carta Programa traz propostas no sentido de vencer esses desafios. Ela toma por base cinco princípios de gestão:
.Estrita observação da ÉTICA e da RESPONSABILIDADE, no respeito à coisa pública;
.Compreensão de AUTONOMIA como a alma, o espírito, o princípio essencial da universidade pública;
.Implementação de Gestão DESCENTRALIZADA para fortalecimento da democracia interna e das instâncias deliberativas;
.Percepção dos RECURSOS HUMANOS como o patrimônio mais importante da Instituição;
.Compreensão de que as ATIVIDADES ACADÊMICAS devem sempre pautar as atividades administrativas.
Na prática, propomos, por exemplo, a elaboração de planejamento estratégico de médio e longo prazo para UERN, levando em conta as demandas apresentadas pelos segmentos acadêmicos; Incentivar o intercâmbio efetivo entre todos os campi da UERN; Elaborar um plano de verticalização do ensino na UERN; Promover o intercâmbio de idéias e troca de experiências entre os pesquisadores da UERN e de outras Instituições do Brasil e do exterior; Garantir a Dedicação Exclusiva como regime de trabalho para todos os docentes que queiram se dedicar exclusivamente às atividades acadêmicas; Criar e implementar o plano de capacitação dos técnico-administrativos; Apoiar a participação dos discentes em eventos de ensino, pesquisa e extensão, bem como de política estudantil; Garantir residências universitárias, de acordo com os padrões de qualidade exigidos, em todos os campi e Informatizar os serviços. Mais detalhes sobre nossas propostas estão disponíveis no endereço http://inovacaoecompromisso.wordpress.com/.
Quais foram os ganhos e as perdas da UERN nos últimos anos?
Falar em ganhos e perdas da UERN nos últimos anos implica assumir uma postura avaliativa criteriosa da gestão em todos os sentidos: administrativo, financeiro e acadêmico. Quanto aos ganhos, percebe-se que a UERN vem crescendo em sua estrutura física, na oferta de cursos de graduação, com criação e implementação de novos cursos em Campi e Núcleos. Mas, podemos considerar como um dos maiores ganhos que a UERN conseguiu nos últimos anos, a aprovação dos três mestrados, junto à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior). São os mestrados em Letras, em Pau dos Ferros, em Física e em Ciência da Computação, na FANAT (Faculdade de Ciências Naturais e Exatas), em Mossoró. Vale ressaltar,
desses três, eu e José Ronaldo liderar a implantação de dois deles, o de Letras e o de Física.
Se houve ganhos, as perdas também são evidentes, dentre tantas, destacamos, entre as maiores perdas da UERN nos últimos anos, (1) o fechamento do Mestrado em Meio Ambiente, (2) fracasso do Doutorado em Educação (convênio entre UERN e Universidade de Havana/Cuba), com grande prejuízo para a UERN e para os doutorandos, e (3) a saída de professores doutores para atuarem em outras Instituições de Ensino Superior, pela falta de condições acadêmicas efetivas e pela inexistência de cursos de pós-graduação stricto sensu em muitas áreas do conhecimento. Essa falta de uma política de fixação de doutores mais abrangente é também conseqüência do pensamento que se tem de Universidade hoje, para a qual o administrativo se sobrepõe ao acadêmico, de modo a refletir negativamente também na criação de novos cursos de Mestrados.
É importante ressaltar que a UERN, diante da perda expressiva de seus doutores, nos últimos anos, para as Universidades Federais, não deve persistir no discurso de que a saída é por questões meramente familiares e/ou pessoais. A UERN tem perdido oportunidades de crescer academicamente, quando forma quadro qualificado e ela mesma expurga-o. O problema continua seriíssimo, pois, nos últimos meses, a UERN perdeu de seu quadro docente 16 doutores. Enfim, o crescimento acadêmico não se faz dentro de uma cultura institucional voltada praticamente para o ensino de graduação, somente para a horizontalização do saber, mas dentro de uma cultura que valoriza a verticalização do saber como resposta aos profundos desafios sociais, políticos, econômicos, culturais e educacionais da sociedade.
Como o senhor vê a questão da imagem negativa do atual vice-reitor perante a comunidade acadêmica?
A imagem negativa do atual vice-reitor é fruto de sua própria história na UERN, construída de contradições nas questões acadêmicas, políticas e administrativas, e de sua concepção meritória e centralizadora de universidade. Portanto, não há sintonia entre suas idéias e o que pensa uma parcela expressiva dos segmentos da UERN.
Qual o diferencial entre os dois vices que disputam as eleições?
A produção acadêmica, a capacidade de relações com outros pesquisadores no Brasil e no exterior, o respeito entre e para com seus pares e a concepção de universidade como espaço de produção e reprodução do conhecimento, em que vigora democracia, autonomia, descentralização e inovação que tem o professor José Ronaldo.
Quais foram os erros do atual reitorado?
Entre muitos outros aspectos, podemos citar: (1) a não elaboração de um Plano de Verticalização do Ensino e Internalização da UERN; (2) a não resolução do problema do Doutorado em Educação, no convênio com a Universidade de Havana, atribuindo responsabilidade pelo fracasso aos próprios doutorandos; (3) o não cumprimento de um plano de capacitação dos técnicos administrativos de contratos provisórios para que os mesmos possam se submeter ao concurso público (já anunciado para maio de 2009 pelo próprio Milton Marques); (4) o não cumprimento de muitas propostas da CARTA PROGRAMA da eleição anterior, com ênfase para AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA (proposta principal da Chapa, mas não cumprida) e a OUVIDORIA; (5) a pouca sensibilidade aos problemas do segmento estudantil. Por exemplo, a UERN, com mais de onze mil alunos e 40 anos de existência, tem somente 01 único ônibus para atendimento aos alunos. Também até hoje não se construiu nenhuma residência universitária em nossa instituição. As que existem são alugadas. Nos campi avançados, isso ainda é só promessa; (6) a implementação de uma gestão EXTREMAMENTE CENTRALIZADORA. Por exemplo, os diretores de unidades acadêmicas não têm nenhuma autonomia administrativa ou financeira para resolver qualquer problema que apareça em sua unidade, nem sequer a compra de material de limpeza, por exemplo. Tudo tem obrigatoriamente de ser pedido ao Epílogo de Campos (Setor da administração central). A UERN é, hoje, uma das instituições mais centralizadoras do Estado do Rio Grande do Norte. As escolas estaduais da Educação Básica, por exemplo, estão bem mais avançadas na descentralização, autonomia e democracia, embora não se tenha chegado ainda ao que os educadores desejam; (7) o não investimento em alguns Campi Universitários e em algumas faculdades, que foram deixadas à margem da administração central. O Campus de Patu, por exemplo, necessita de investimentos imediatos e grande parte de seus segmentos acadêmicos alegam total abandono por parte da administração central; (8) a formação de grande parte do quadro de assessores sem definição de perfil. Há assessorias em que os titulares não têm a mínima condição de ali estarem. A escolha da equipe do atual reitor não foi feita seguindo critérios de competência e habilidade para o cargo. Em algumas dessas assessorias, os titulares já têm 12 ou mais anos na função, recebendo altas gratificações como se fossem eternos salários. Já se sentem donos dos setores.
Como vê a questão dos 413 contratos provisórios num universo de pouco mais de 900 servidores? Este número não lhe parece excessivo?
A primeira coisa que devemos considerar é que os servidores de contratos provisórios não são os responsáveis por esta situação e sim as sucessivas administrações, incluindo a atual. Eles estão aqui porque foram contratados pela UERN, por isso cabe à própria administração explicar os seus atos administrativos e buscar meios para resolver esse desafio. Caso ele não resolva, a nossa Chapa tem uma proposta concreta para a questão dos contratos provisórios.
Um concurso público, para legitimá-los nas funções que exercem atualmente, não iria prejudicá-los depois de tantos anos de serviço, já que, como disse o próprio Reitor, por ser público o concurso está aberto a todos aqueles que desejarem concorrer?
Com certeza irá prejudicar uma grande parte desses servidores. E os responsáveis pelo agigantamento desse problema é a própria reitoria. Ao invés de se deixar claro para todos os funcionários de contratos provisórios a necessidade de se qualificarem e concorrerem a um concurso público de provas e títulos em condições equivalentes a de outros concorrentes, e com antecedência, optaram por maquiar a situação, renovando-se os contratos a cada onze meses. Com isso podaram o futuro profissional de muita gente boa que temos hoje na UERN, na condição de servidor de contrato provisório, pois o concurso foi anunciado na imprensa pela reitoria para maio próximo (depois das eleições) e, como o próprio reitor afirmou, em entrevista a esse próprio Blog, o concurso será aberto a todos. Aí quem vem se preparando permanentemente para concursos ou quem está saindo agora do nível médio levará uma grande vantagem em relação aos nossos servidores, apesar destes terem bem mais experiência em seus respectivos cargos.
Havia, a seu ver, uma solução melhor para o caso?
Havia, e ainda podemos fazer, com vontade política e bom senso, contribuir para que os efeitos sejam menos prejudiciais aos nossos servidores de contratos provisórios do que aquilo que se desenha. Primeiro, temos que oferecer imediatamente cursos de qualificação, de formação também, em suas respectivas áreas e funções, para os nossos servidores. Segundo, esses cursos devem ter uma carga horária suficiente para que se melhorar os seus currículos e lhes uma formação consistente e também teórica de sua função. Terceiro, esses cursos, ao mesmo tempo, devem prepará-los melhor para enfrentarem um concurso de provas e títulos, uma vez que muitos deles nunca se submeterem a esse tipo de avaliação.
Como se coloca para o senhor a questão do convênio UERN-Cuba? Por que não deu certo?
O convênio UERN-Cuba consiste num dos gargalos de nossa política de pós-graduação. A UERN tinha a intenção de formar quadro docente qualificado e acabou não formando/qualificando nenhum professor. Aliás, muitos de nossos professores já fizeram seus mestrados e já estão fazendo seus doutorados. Outros estão se preparando. Infelizmente, o quadro é este. A sociedade e, mais particularmente, a comunidade universitária está exigindo uma resposta plausível para esclarecer o problema. O investimento foi alto para não se obter nenhum resultado. No nosso entender, a qualificação de professor em nível de doutorado é um momento da vida do professor que deve ter aproveitamento acadêmico máximo, o que não acontecia no convênio supracitado. Tal aproveitamento pressupõe envolvimento e articulação com os pesquisadores, com as pesquisas nacionais e internacionais na área objeto de estudo do pós-graduando. Na realidade, os doutorandos acabaram não vivenciando isto, o que contribuiu com o esvaziamento do grupo logo nos primeiros anos. Para se ter uma idéia: o professor era liberado parcialmente de suas atividades e como estava parcialmente liberado acabava assumindo atividades outras, que não cabe aqui esmiuçá-las. Na condição de doutor que se qualificou com afastamento integral de minhas atividades, defendo a liberação total do docente para potencializar cognitivamente este momento da formação continuada. Além disso, o problema foi se agravando quando nacionalmente a validação dos diplomas dos cursos em universidades estrangeiras passou a ser cada vez mais difícil e quando o atual reitor resolveu atribuir aos doutorandos (nomeando-os de mestrandos) responsabilidade por esse absurdo gasto de dinheiro público sem planejamento estratégico, como fez Nilton Marques na entrevista a esse mesmo Blog, Já que adentramos neste debate árido, vale a pena também pensar na validação dos diplomas dos professores que fizeram suas qualificações em universidades estrangeiras e já retornaram a suas atividades. Lamentavelmente, nossa legislação (Normas sobre Capacitação Docente) continua cega em alguns pontos que se colocam como cruciais ao desenvolvimento acadêmico da UERN.
O senhor responsabilizaria alguém por este fracasso?
Pelo que já falamos anteriormente, o problema é demasiadamente complexo para simplificações de posições apressadas. O problema se deu na concepção de um doutorado que não conseguiu romper com o isolamento da UERN no que toca ao intercâmbio nacional e internacional. Logo cedo, muitos perceberam o “fogo cruzado” e falta de segurança da coordenação do Projeto e evadiram-se do curso. Ao invés de atribuir culpas a algum segmento responsável pelo curso, cabe a UERN passar a limpo e viver uma nova página com Inovação e Compromisso Acadêmico. A inovação requer mudanças de estratégias, de compreensão dos fenômenos em sua complexidade. Ou seja, em sua essência. Portanto, pensar acerca do fracasso do convênio UERN-CUBA é, antes de tudo, depuração fenomênica, conforme as pistas, as evidências que a realidade apresenta.
O que os campi ganharam sob o atual reitorado?
Podemos destacar a abertura para o diálogo, que foi um ganho desse atual reitorado que os campi puderam usufruir, embora, na maioria das vezes, quando a direção de alguns campi saíam saía da sala da reitoria e passavam às assessorias, o diálogo não se efetivava na prática. E os motivos são vários.
O que deixou de ser feito?
Há campi avançado em que basicamente nada foi feito. Mas, principalmente, deixou ser feito o INVESTIMENTO nas condições técnicas que garantissem a qualidade das atividades efetivadas de ensino, pesquisa e extensão nesses campi.
Quais as suas propostas para os campi?
São muitas, conforme você pode ver em nossa CARTA PROGRAMA, disponível no endereço http://inovacaoecompromisso.wordpress.com/. As principais propostas estão relacionadas ao investimento na qualidade, na estrutura e nas condições técnicas necessárias à efetivação do salto acadêmico que pretendemos dar em toda a UERN.
Qual o papel dos campi?
O papel dos Campi Universitários (Central ou Avançados) é o mesmo. E devem ser tratados de acordo com os padrões de qualidade acadêmica. O papel dos campi é ser um espaço adequado à produção e reprodução do conhecimento, e de promoção de sua disseminação e inserção nos diversas regiões de nosso Estado. Tem o papel de democratizar o ensino superior. São fundamentais em qualquer universidade pública.
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